Postagens

Mostrando postagens com o rótulo dependência química

Um monstro na Cracolândia

Como tratar o crack? Alguém tem uma receita clara e objetiva? Em uma das Universidades mais conceituadas do Brasil dois grupos respeitadíssimos divergem na leitura da forma de lidar com algo que acompanha a humanidade desde que esta passou a ter esse nome. A droga, assim como qualquer outra substancia que colocamos para dentro de nosso organismo, o altera. O chocolate, a batata frita, o açúcar além do prazer nos trazem outros problemas como a diabete e o colesterol. O grande barato da droga seja ela qual for é mudar a realidade, a distorcendo, deixando-a mais excitante ou mais amena. A usamos desde as mais tenras datas para tentar ler o futuro, fluir pensamentos, descontrair e rompermos as barreiras da timidez e entrar em contato com outras pessoas. A história está recheada de drogas, nos oráculos, nos banquetes da filosofia, nas ceias, ela sempre esteve ao nosso lado. O que torna a droga problemática hoje é o fato de que algumas delas são usadas de forma tão compulsiva a pon...

Drogas, moradores de rua e humanidade

Sair das drogas requer muito mais que cuidados médicos. Requer uma infraestrutura ao redor que suporte o significado de uma vida sem drogas. Alias mais que isso, uma rede de significados e valores. Se eu estivesse falando de uma estrutura material somente, não seria justificada a dificuldade de tantas pessoas das classes A e B que hoje estão afundados nas drogas. Tive a oportunidade de conhecer famílias dessas classes cujos valores se baseavam no dinheiro ou no intelecto. “Você é importante para mim, veja o tanto que eu invisto em você!”; “Você tem que estudar para ser alguém na vida!”  Por acaso quem não estudou não é alguém? E como fica quem estudou, se formou, mas não se identifica com os estudos? Não se identifica com “ ser alguém ”? Os valores modernos baseados no ter e no ser distanciaram o ser humano de sua humanidade, e mais ainda das questões básicas de sua existência. Dai as mediações humanas ganharam caráter superficial e temporário. Quando alguém, mora...

Internação Compulsória x Vínculo

Tudo bem que quando em uso compulsivo da droga, principalmente o crack, dificilmente a pessoa está consciente suficiente para aderir ao tratamento. Até porque a compulsão pela droga é capaz de interferir nas suas funções psíquicas. Mas a questão é: A ajuda forçada funciona? Entendo o desespero, bem intencionado, de querer ajudar alguém que de forma compulsiva destrói sua vida. E que muitas vezes no ímpeto momentâneo de querer ajudar “tudo vale”. O que tenho aprendido sobre a dependência química é a importância do vínculo. Sem ele dificilmente há sucesso na intervenção. E daí o grande problema da internação compulsória é que ela dificulta grandemente, para não dizer que vai contra ao vínculo que pode ajudar o indivíduo. Não digo que seja impossível haver vínculo quando há internação compulsória, pois como psicólogo sei também que esse se dá das mais diversas formas e tem os mais diversos significados dentro da história de cada pessoa. É o vínculo que vai fazer o usuário a aderir ao trat...

E peço ao balconista minha mãe

Meu pai era muito forte, Amava-o, mas não podia suportá-lo. Seu jeito de olhar, seu tom de voz me sufocavam e me faziam sentir medo. Suas criticas me geravam culpas, Culpas, que em minha pequenez não sabia administrar, Culpas, que transformavam as pessoas a minha volta em juízes, os quais precisava convencer a meu favor. Minha mãe, nunca enfrentou meu pai.  E eu também não. E sei que ela o temia muito. Ela me protegia. Me fazia esquecer toda culpa e também toda a realidade que me oprimia tanto, quando eu era tão frágil. Me alegrava e me fazia sentir gente, quando me ouvia falar, o que nem sabia bem o que. Quando estava em seu colo, podia sentir como em seu útero nadando no calor e na fluidez do líquido amniótico. Hoje meus pais não existem mais. Ainda me sinto oprimido pela culpa de tudo que faço, q uando sinto os olhos do meu pai em minha memória a me punir e a me julgar. Sem ninguém para me proteger, Procuro minha mãe para me fazer esquecer a dureza da realidade q...

Mora na rua, não porque não tem casa, mas porque não cabe nela.

A população em situação de rua cresce no mesmo nível que nossa sociedade se torna complexa. Quem não suporta, ou se adapta a essa complexidade acaba por viver a margem dela. Quando morávamos nas cavernas, quem tinha medo de locais escuros e fechados tinha que se sujeitar a ficar nas intempéries do tempo. Desde o começo quem não caçava não comia a não ser que sujeitasse a generosidade de um caçador. Com o tempo foram cabendo outras habilidades e o dinheiro serviu como cambio para as trocas. Um não sabia caçar, mas sabia cozer o alimento muito bem, assim os dois comiam. Conforme fomos complicando nossa sociedade nem todo mundo pode se adaptar a ela para oferecer algo que tenha valor (segundo os critérios que foram sendo estabelecidos) suficiente para lhe garantir uma autonomia. O trabalho intelectual passou a ser valorizado de tal forma que quem era capaz de desenvolve-lo passou a ter muito mais do que precisava em muitos casos. E o que não era capaz, mesmo tendo varias outras habilida...

Dependente Químico ou Social

Não tenho duvida que as drogas, entre elas o álcool, são substancias que alteram profundamente a forma de funcionar do Sistema Nervoso Central. Que sua ausência, depois de um bom tempo de consumo frequente causa grande desequilíbrio e incomodo no organismo. Contudo tenho observado pessoas que passam dias sem usar a droga, meses, até anos, mas quando experimentam alguma situação emocional fora do basal para eles a droga sempre vem e bate forte. Quando acontece algo que os deixa muito alegres, muito tristes, preocupados e mesmo ansiosos, não dão conta que acabam rompendo o período de abstinência. A sociedade moderna atingiu um nível de complexidade e algo mais complexo que isso, de especificidade, que muitos não dão conta. Não porque são menos que os outros, mas porque são diferentes da estrutura que a sociedade criada espera deles. No passado e ainda hoje por algumas seitas as drogas são utilizadas em cerimonias religiosas para colocar o ser humano em contato com uma divindade, que seja...

Finge que é atendido que eu finjo que te atendo

Muitos profissionais da assistência, apesar da boa formação teórica, conhecimento da historia da assistência social ainda possuem grande dificuldade de se colocar como agente de efetiva assistência. O ranço assistencialista que ainda existe, toma formas diversas nos atendimentos atuais. A grande dificuldade de sair do próprio centro, dos próprios referenciais para enxergar o sujeito como ele se apresenta com seus próprios valores. Quando estudava psicopatologia na faculdade, a professora Marly, excelente professora, nos contou sobre o mito de Epicurio, um personagem que esticava ou cortava seus hospedes para caber em sua cama. Hoje vejo muitos profissionais ao atender, deformando seus usuários para encaixarem eles em seus encaminhamentos. Não estou dizendo que exista má fé desses profissionais. Alias Epicurio era uma pessoa muito generosa a sua maneira pelo que sei. Falta talvez um senso crítico e uma disponibilidade empática capaz de romper a barreira das individualidades. O efeito co...