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Mostrando postagens de abril, 2011

Andarilho

Os rostos me assustam, quando se tornam comuns.  Quando passo a ver neles além do que eles são, enquanto paisagem.  Os lugares me cansam, quando não mudam aos meus olhos e me forçam a dar sentido a eles. Gosto de andar.  Gosto de este andar que coloca em linha reta pensamentos, que não sei muito bem se os tenho ou não.  Alias, quando ando meu andar são meus pensamentos. Minhas roupas são sempre as mesmas, isso sim não muda, pois são o que eu sou.  E sem elas, não sou ninguém não tenho identidade. Minha família sou eu mesmo.  Nasci de uma mulher, mas não quero falar sobre isso para não ter que lembrar de uma dor, que não sou capaz de suportar. Meu nome nem quero ouvir.  Não preciso dele, ele me limita, me prende a um lugar e a pessoas que não reconheço mais. Dizem que ando porque fujo de mim, mas fujo na verdade dessas pessoas que querem me prender em seus conceitos. Tenho o sol por meu pai, que me guia durante o dia, sem me cobrar nada,  A lua por minha mãe, que me cobre toda n

Surdez e Déficit de Atenção

Tenho acompanhado entre meus pacientes e ouvido de professores a dificuldade de atenção entre algumas crianças com deficiência auditiva. Não é geral, mas é importante a incidência de dificuldade de atenção entre as crianças surdas. Por vezes algumas crianças já vinham da escola com um diagnostico de hiperatividade e déficit de atenção, colado na testa por algum profissional. Olhando mais atentamente, e principalmente procurando pensar o caso pude perceber o efeito que o estimulo auditivo tem no desenvolvimento da atenção. O canal de comunicação auditivo, com sua particularidade de fazer perceber apenas um recorte bem pequeno da realidade, mesmo assim colocado de forma linear dá contingência a percepção visual a medida que realça ou desfoca os estímulos percebidos pelos outros sentidos, principalmente da visão que nos traz uma enxurrada de informações. Com a visão percebemos uma amplitude de informações tridimensionais com variáveis de cor e movimento, maior muitas vezes que a

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Um olhar mais cuidadoso sobre o Monstro:

Wellington Menezes de Oliveira e as Vítimas de Realengo Sozinho, tímido e com muita dificuldade de fazer amigos, lidar com a rotina social, ele andava cabisbaixo. Não tinha outros amigos se não aqueles que conhecia na internet. Eram dias e noite vivendo em um abismo sepulcral. Sem ninguém para conversar, dividir as angustias, sonhos e frustrações. Frustrações principalmente com as mulheres, as que ele nunca pode tocar. Era virgem. No começo porque não conseguia chegar em nenhuma menina para conversar, depois para encobrir seu fracasso, e para não lhe pesar tanto, passou a convencer-se que era por opção. Seus pais biológicos ? ? Uma mãe esquizofrênica. Seus pais de criação, falecidos. Demais parentes tão distantes quanto a vizinha que nem sabia seu nome. Para todos não era ninguém. Ninguém notava seu andar cabisbaixo, seu sofrimento no rosto seus olhos tímidos e menos ainda o mundo que estava criando para sí. Era difícil de mais tolerar as lembranças do mundo real. Na escola

Se você me tirar a bebida vai colocar o que no lugar?

Escuto sempre, entre familiares e amigos de etilistas eles dizerem que seus parentes ou amigos não devem beber mais. Que precisam eliminar a bebida de suas vidas. Certa vez em uma intervenção que fiz com uma pessoa completamente alcoolizada ouvi: Se eu não beber , me suicido. Você acha que minha vida é fácil? Estou longe da minha família, não tenho amigos... Minha vida é um inferno... Eu sabia que não era só a família distante e a falta de amigos que tornavam sua vida um inferno. A bebida também a tornava, mas antes de tudo isso uma grande quantidade de situações que ele não dava conta no seu dia a dia também. Alias foram essas situações que o fizeram afastar da família e dos amigos, quando não dava conta de resolver seus problemas de forma saudável e se refugiava na bebida. A falta de referenciais, de estímulos e mesmo condições básicas para seu desenvolvimento, aliadas a uma baixa estima e sensação de ser excluído por não possuir tudo aquilo que disseram para ele, através do

Birra

Uma mãe me perguntou o que fazer quando sua criança faz birra. Ela estava falando daquelas birras escandalosas, de cair no chão e espernear. Antes de responder, procurei entender como isso acontecia, e comecei perguntando o que ela faz diante da birra da criança, ao que ela me respondeu: dou uma bronca, bato e quando não vejo outro jeito cedo aos gostos da criança. Elaborei com ela o que cada ato dela significava para a criança. No primeiro e segundo caso, diante de uma frustração não contida (não ter o que quer), ou melhor, digerida pela criança, por falta de repertorio ou habilidades para entender e controlar suas angustias a criança recebe da mãe uma segunda tensão, que seria a bronca ou a surra. Isso tornaria mais difícil ainda a criança suportar suas angustias e frustrações e diante disso a criança teria duas saídas: se vê que tem espaço procura colocar para fora da maneira como sabe toda a angustia que sente; se não,então se deprime e recalca todos seus desejos. Temos que ter cla

Instituição

Quando se trata de pessoas que estavam em situação de rua dentro de abrigos temos que considerar a alienação que o sujeito tem quando não participa da construção de seu projeto ou das modificações de seu espaço como fator negativo em seu desenvolvimento. Em instituições onde os profissionais ou outras instâncias determinam o projeto de vida dos usuários, privam os mesmos de experimentar e decidir por si próprios, modificam as regras ou a sua rotina como se fossem os grande sabedores do que é melhor para ele, estão na verdade o privando do que ele tem de mais precioso, que é sua autonomia. Alienando-o das decisões o tornam privados da interação efetiva com a realidade de que tanto precisam para se desenvolver. Neste caso é importante não ceder a tentação de decidir pelo usuário, quando o papel necessário seria de lhe dar assistência e suporte para ajudar a lidar com a realidade. Mesmo a dependência química, problemática importante para essa população, parece ter importância diminu

Síndrome do mau professor

Primeiro aumenta-se o estresse, a irrabilidade. Está síndrome está sempre associada à baixa resistência à frustração. Em alguns casos os “pitis” são freqüentes, dificuldade de falar baixo e certa surdez seletiva (escuta apenas o que interessa). Depois vem a taquicardia, a sudorese e por fim uma fase de estabilidade dos sintomas. Como se o individuo com a síndrome pudesse se adaptar aos sintomas e todo o ambiente também se acostumasse com seus gritos, “pitis” e todos os outros sintomas posteriores. A estabilidade se dá a custa de uma catarse sublimada num padrão “intelectualoide” em forma de rótulos. Em alguns casos, entre os mais prolixos os únicos sintomas visíveis são a distribuição de rótulos em tudo aquilo que não dá conta de controlar. Ai começa a chamar os seus alunos com mais energia de hiperativos, os que não acham nada interessante sua monótona aula de portadores de déficit de atenção, o que ele não consegue ensinar a ler de dislexo, o que ele não consegue ensinar nada,