Birra

Uma mãe me perguntou o que fazer quando sua criança faz birra. Ela estava falando daquelas birras escandalosas, de cair no chão e espernear.

Antes de responder, procurei entender como isso acontecia, e comecei perguntando o que ela faz diante da birra da criança, ao que ela me respondeu: dou uma bronca, bato e quando não vejo outro jeito cedo aos gostos da criança.

Elaborei com ela o que cada ato dela significava para a criança.

No primeiro e segundo caso, diante de uma frustração não contida (não ter o que quer), ou melhor, digerida pela criança, por falta de repertorio ou habilidades para entender e controlar suas angustias a criança recebe da mãe uma segunda tensão, que seria a bronca ou a surra. Isso tornaria mais difícil ainda a criança suportar suas angustias e frustrações e diante disso a criança teria duas saídas: se vê que tem espaço procura colocar para fora da maneira como sabe toda a angustia que sente; se não,então se deprime e recalca todos seus desejos.

Temos que ter claro que a criança não aprendeu pensar, digerir ou mesmo dar uma saída socialmente desejada a toda frustração que sofre. Ela aprende isso conversando ou imitando os adultos.

Quando diante da frustração de não poder comer algo que ela adora, e muitas vezes inclusive estando com fome, ela não é capaz de compreender que se tem horário para comer, que existe custo e que dinheiro não dá em arvore, que certas coisas são indesejáveis certas horas do dia(isso nem eu entendo) etc. ... sobra somente seu sentimento e rédea nenhuma para controlá-lo.

Quando os adultos se vêem diante de algo que querem e não podem ter, espera-se que ele primeiro reconheça suas vontades, depois que seja capaz de direcionar sua frustração e angustia através do pensamento para uma atitude produtiva e socialmente aceita. Todo esse processo, embora automático não é tão visível para a criança e ela não sabe a priori como levá-lo a cabo se não tem alguém para lhe ensinar.

Assim conversar com a criança, iniciando-se a conversa pelo reconhecimento dos sentimentos da criança é um bom caminho, não para conter naquele momento a crise, mas para criar uma estrutura e um repertorio que a médio e longo prazo impeçam a criança de repetir a birra.

Já o terceiro proceder da mãe, revela a criança que além de poder conseguir tudo que quer através da birra, que a mãe mente, quando compra após dizer que não tinha dinheiro, que deixa comer dizendo que iria fazer mal e assim por diante.

Por final indiquei a mãe que reservasse pelo menos meia hora por dia para conversar com a criança. Contudo ela me respondeu que isso não seria possível, visto durante semana quando ela chega em casa vindo do trabalho seu filho já está dormindo...

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