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Fazer caridade à custa de que?

Há quem doa roupas para proteger do frio, Mas não consegue esquentar um coração. Há quem dá toda sua riqueza aos pobres, Mas não lhes dá voz nem dignidade de agir por si. Há quem ao pobre dá trabalho, Mas continua o vendo como ninguém. Há quem reclame da inércia e da falta de protagonismo dos moradores de rua, Mas nunca acredita na capacidade deles de pensar, decidir e agir por si próprio com assertividade. Há quem doa alimento para nutrir o corpo de um mendigo, Mas suga sua alma com a indiferença da própria altivez.

Drogas, moradores de rua e humanidade

Sair das drogas requer muito mais que cuidados médicos. Requer uma infraestrutura ao redor que suporte o significado de uma vida sem drogas. Alias mais que isso, uma rede de significados e valores. Se eu estivesse falando de uma estrutura material somente, não seria justificada a dificuldade de tantas pessoas das classes A e B que hoje estão afundados nas drogas. Tive a oportunidade de conhecer famílias dessas classes cujos valores se baseavam no dinheiro ou no intelecto. “Você é importante para mim, veja o tanto que eu invisto em você!”; “Você tem que estudar para ser alguém na vida!”  Por acaso quem não estudou não é alguém? E como fica quem estudou, se formou, mas não se identifica com os estudos? Não se identifica com “ ser alguém ”? Os valores modernos baseados no ter e no ser distanciaram o ser humano de sua humanidade, e mais ainda das questões básicas de sua existência. Dai as mediações humanas ganharam caráter superficial e temporário. Quando alguém, mora...

Andarilho

Os rostos me assustam, quando se tornam comuns.  Quando passo a ver neles além do que eles são, enquanto paisagem.  Os lugares me cansam, quando não mudam aos meus olhos e me forçam a dar sentido a eles. Gosto de andar.  Gosto de este andar que coloca em linha reta pensamentos, que não sei muito bem se os tenho ou não.  Alias, quando ando meu andar são meus pensamentos. Minhas roupas são sempre as mesmas, isso sim não muda, pois são o que eu sou.  E sem elas, não sou ninguém não tenho identidade. Minha família sou eu mesmo.  Nasci de uma mulher, mas não quero falar sobre isso para não ter que lembrar de uma dor, que não sou capaz de suportar. Meu nome nem quero ouvir.  Não preciso dele, ele me limita, me prende a um lugar e a pessoas que não reconheço mais. Dizem que ando porque fujo de mim, mas fujo na verdade dessas pessoas que querem me prender em seus conceitos. Tenho o sol por meu pai, que me guia durante o dia, sem me cobrar nada,  A...