Mora na rua, não porque não tem casa, mas porque não cabe nela.

A população em situação de rua cresce no mesmo nível que nossa sociedade se torna complexa. Quem não suporta, ou se adapta a essa complexidade acaba por viver a margem dela.
Quando morávamos nas cavernas, quem tinha medo de locais escuros e fechados tinha que se sujeitar a ficar nas intempéries do tempo. Desde o começo quem não caçava não comia a não ser que sujeitasse a generosidade de um caçador. Com o tempo foram cabendo outras habilidades e o dinheiro serviu como cambio para as trocas. Um não sabia caçar, mas sabia cozer o alimento muito bem, assim os dois comiam.
Conforme fomos complicando nossa sociedade nem todo mundo pode se adaptar a ela para oferecer algo que tenha valor (segundo os critérios que foram sendo estabelecidos) suficiente para lhe garantir uma autonomia. O trabalho intelectual passou a ser valorizado de tal forma que quem era capaz de desenvolve-lo passou a ter muito mais do que precisava em muitos casos. E o que não era capaz, mesmo tendo varias outras habilidades, em muitos casos passou a ter menos do que precisava para sua subsistência. Isso falando só sobre trabalho. Mas temos que falar sobre as habilidades que são necessárias para sobreviver no mundo de hoje.
Ter uma casa, administrar os relacionamentos com os amigos, cônjuge, vizinhos. Ter habilidade estratégica e matemática para lidar com o dinheiro dentre outras é o que é exigido para ser alguém nessa selva de pedras que vivemos. Habilidades, não que nos torna humanos, mas um tipo especifico de humanos que nem sempre damos conta de ser. Dai aqueles que são tão humanos como nós viverem a margem por não conseguirem ser o que não são.
Não estou fazendo com isso apologia ao socialismo, comunismo ou qualquer outro sistema similar embora o que escrevi acima também já tenha sido escrito por defensores desses modelos.
Acredito que esses modelos são a contramão reativa da solução do problema. Não podemos combater a falta de sensibilidade e amplitude de valores do sistema com mais engessamento material feito nesses sistemas pelo estado.
A questão maior está justamente nos valores que defendemos, e não nas instituições. São esses valores que nos saqueiam pelo capitalismo, nos estupram pela meritocracia e nos mutilam pela rotulação. Não valorizamos o homem, mas apenas algumas coisas que ele produz.
E coloca nas ruas, não quem não merece casa, mas quem não tem a cor, a altura e a largura que ela exige.

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