Bebado, Vagabundo???

É muito comum ouvir adjetivos, como bêbado, vagabundo, se referindo a pessoas que se encontram a margem da sociedade, jogadas pelas ruas. E muitas vezes embebidos por um espírito não cristão ouvimos: "esses caras tem que sofrer mesmo para apreender..."
Quando deixamos o preconceito de lado, para dar lugar a observação mais atenta, podemos perceber que as coisas não são tão simples assim.
Que não trabalhar, ou beber, não é tão um ato voluntário quanto é um ato de fuga de um peso, que por não sentirmos em nossas costas, impostos pela complexidade social ignoramos naqueles que por conta de sua estrutura psíquica não dão conta.
Essa falta de estrutura psíquica para suportar essa complexidade social pode ter varias causas, entre elas uma falta de estrutura social durante o desenvolvimento, privações, ou mesmo características neurofisiológicas que não os tornam menor que um deputado que não tem cabelo. Esse segundo não é marginalizado porque o funcionamento fisiológico dele parou de produzir cabelo. E muitas vezes o que causa um desequilíbrio psíquico, é bem menos que o que causa a queda do cabelo.
Se tiramos essas pessoas da rua, e oferecemos uma estrutura material estável e confortável para seu desenvolvimento percebemos claramente que existe a vontade de estar na sociedade, de trabalhar, de não beber. Mas percebemos também a ausência de algo importante que deve ser priorizado.
Percebemos que a interação social não é suficiente para garantir uma estabilidade emocional e principalmente uma identidade que dê referências nas interações externas e internas. Observamos a superficialidade das trocas e de significado em seus cotidianos e o grande vazio abismal que é conseqüência disso. Daí a bebida e em alguns casos a droga ser a automedicação óbvia para tão grande angustia. Quando bebe, percebemos que essas personalidades tomam contornos mais claros, passam a ter opiniões, criticas, gostos e desgostos que não eram tão claros na sobriedade. São contornos na maioria das vezes não tão bem aceitos na sociedade, porque por estarem escondidas, não puderam amadurecer. Mesmo que não são ouvidos quando sobre efeito de álcool, eles falam. Mesmo que não seja o que gostaríamos, eles sentem.
Tirar bruscamente a bebida de uma pessoa assim é tirar a comida de um desnutrido se não oferecemos alimento melhor em troca: que é a oportunidade de ser, de falar, de ouvir e opinar e crescer sem ser julgado pelo que ele não tem.

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