O indisciplinado

O que fazer com um aluno indisciplinado? Em um primeiro momento nos vem à mente punições, oferecer limites e mais limites para a indisciplina dele. Mas será a indisciplina somente a falta de limites?

Tive a oportunidade certa vez de atender um garoto, encaminhado por sua escola por conta de seu comportamento inconveniente. Nunca parava sentado e o tempo todo estava conversando. Logo no primeiro atendimento, em uma atividade de desenho notei que ele aproximou de mais o rosto da folha. Estava na minha frente um míope cuja urgência era de um oftalmologista e não de um psicólogo. Fiz um breve teste de acuidade visual para confirmar a observação e o encaminhei para o centro de saúde. Mantive por um mês após ele ganhar o óculos o atendimento, duas vezes por semana com a finalidade de motiva-lo a descobri r o mundo que antes não enxergara. Foi mágico! Muito rápido ele apreendeu a ler e passou a se interessar pelo que a professora ensinava. Tenho que confessar que ele ainda continuou a ser um aluno que falava muito na sala de aula. Ele já havida descoberto as habilidades sociais mais que ninguém por conta da sua limitação visual!

Hoje quando me perguntam sobre como manter a disciplina de alunos em sala de aula, penso muito mais no porque eles não são disciplinados do que no porque eles são indisciplinados. E procuro investigar o que é que o afasta do comportamento desejado pelo professor. Às vezes descobrimos alguma patologia sensorial – deficiência auditiva ou visual- em alguns casos raros algumas alterações neurológicas, mas em muitos casos, aulas desinteressantes, pouco motivadores e não adaptadas ao perfil diversificado dos alunos.

A diversidade cultural e de estímulos que nossas crianças estão expostas provocam nelas uma diversidade de interesses, ou de formas de se interessarem pelas coisas. Também formas diferentes de funcionar e de apreender. Quase que podemos dizer que para cada criança existe um paradigma de aprendizagem. Isso não significa, por sua vez que para cada criança deva haver um professor ou um método, mas antes disso que aja da parte de quem ensina flexibilidade, senso de observação e compreensão e principalmente empatia.

Há de se entender que existem varias maneiras de se aprender e de ser alguém, e que o aluno pode estar seguindo, por sua natureza ou escolha uma diferente da do professor.

Também há de se entender que todos os seres humanos querem ser reconhecidos, querem ser alguém, e quando não dão conta de o serem pelo meio normal ou aceito acabam por tentar ser por outro meio nem sempre conveniente como foi o caso do garoto citado no inicio desta postagem, que por não conseguir por sua deficiência visual ser valorizado como aluno apreendeu a ser um bom conversador na sala de aula.

Comentários

  1. Boa. Andei fotografando em algumas escolas e vi muitas coisas tensas que poderiam ser resolvidas dessa maneira. Infelizmente, quase sempre procuram as tradicionais soluções e que só pioram a situação. Abraço.

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  2. Infelizmente é a realidade de muitas de nossas crianças. Os professores não conseguem cativar, despertar o interesse da criança, que tem que se interessar por outra coisa, pois criança não interessada em algo que seja, não está no seu normal. E aí muitas são encaminhadas ao psicólogo, por dificuldades de aprendizagem ou comportamento. Na maioria das vezes é só uma inadequação ao que está acontecendo na sala de aula, ou seja, falta de preparo do professor para atender à sua clientela. Mas, vamos e venhamos, a realidade do professor também é bem difícil. Salas abarrotadas de alunos é um grande complicador... A falta de respeito pelo profissional da educação é outro. Onde vamos parar??

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  3. Fiz estagio na area de psiclogia da saude em uma escola publica e dentre as varias queixas trazida pela direção pude observar um aluno que não prestava atenção a nenhuma aula percebi que ele tinha uma patologia associada e insisti em observa-lo mais de perto e para minha surpresa o aluno tem uma patologia auditiva ate então não percebida pelos professores... Pois é as
    vezes falta um pouco mais de atenção e saber que cada um é um...

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  4. Realmente. Normalmente só vemos a floresta e esquecemos de ver as arvores.

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