Um monstro na Cracolândia
Como tratar o crack? Alguém tem uma receita clara e
objetiva?
Em uma das Universidades mais conceituadas do Brasil dois
grupos respeitadíssimos divergem na leitura da forma de lidar com algo que
acompanha a humanidade desde que esta passou a ter esse nome.
A droga, assim como qualquer outra substancia que colocamos
para dentro de nosso organismo, o altera. O chocolate, a batata frita, o açúcar
além do prazer nos trazem outros problemas como a diabete e o colesterol. O
grande barato da droga seja ela qual for é mudar a realidade, a distorcendo,
deixando-a mais excitante ou mais amena. A usamos desde as mais tenras datas
para tentar ler o futuro, fluir pensamentos, descontrair e rompermos as
barreiras da timidez e entrar em contato com outras pessoas. A história está
recheada de drogas, nos oráculos, nos banquetes da filosofia, nas ceias, ela
sempre esteve ao nosso lado.
O que torna a droga problemática hoje é o fato de que
algumas delas são usadas de forma tão compulsiva a ponto de tornar seus
usuários “não funcionais à sociedade”. Se
considerarmos a complexidade que se tornou nossa vida diária, a cobrança por
ter, por ser, por fazer, fica mais fácil de entender a compulsividade do uso da
droga e principalmente o circulo vicioso da qual ela faz parte impulsionada
pelo desemprego, falta de moradia, cuidados com a saúde e educação.
Na cracolândia vemos o crack, mas antes vemos lá, pessoas
que não tem, não fazem e não são o que a sociedade tem como certo, como bom. O
crack é a fuga não só da carência de recursos materiais, mas também de valores
humanos. É a fuga do sofrimento, da exclusão e não é impondo mais dor e humilhação
que podemos cura-lo. E é por isso que ele não é fácil de”tratar” ou “controlar”,
pois ele não é uma doença circunscrita ao doente, mas que tem o doente como
manifestação visível. O crack não é o monstro da cracolândia, mas a cracolândia
é o refugio das suas vitimas mais frágeis.
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