Um olhar mais cuidadoso sobre o Monstro:

Wellington Menezes de Oliveira e as Vítimas de Realengo

Sozinho, tímido e com muita dificuldade de fazer amigos, lidar com a rotina social, ele andava cabisbaixo. Não tinha outros amigos se não aqueles que conhecia na internet.

Eram dias e noite vivendo em um abismo sepulcral. Sem ninguém para conversar, dividir as angustias, sonhos e frustrações. Frustrações principalmente com as mulheres, as que ele nunca pode tocar.

Era virgem. No começo porque não conseguia chegar em nenhuma menina para conversar, depois para encobrir seu fracasso, e para não lhe pesar tanto, passou a convencer-se que era por opção.

Seus pais biológicos ? ? Uma mãe esquizofrênica. Seus pais de criação, falecidos. Demais parentes tão distantes quanto a vizinha que nem sabia seu nome.

Para todos não era ninguém. Ninguém notava seu andar cabisbaixo, seu sofrimento no rosto seus olhos tímidos e menos ainda o mundo que estava criando para sí. Era difícil de mais tolerar as lembranças do mundo real.

Na escola, não foi notado. Notas medíocres o garantiram a progressão entre as séries. Como nunca foi agressivo nem gênio não chamava a atenção. Mas nem por isso sofria menos.

Se sentia um animal abandonado carente de carinho e de proteção.

Quantas vezes cruzava na rua com pessoas que lhe faziam sentir-se invisível! Nem um bom dia, boa tarde ou noite.

Os outros eram um problema para ele. Seus sorrisos lhe doíam muito, pois não conseguia sorrir em meio as paredes brancas encardidas de sua casa. A lembrança de seus colegas da escola, felizes por serem o que ele não era, foram as sombras que o perseguia todas as noites quando chorava sem lagrimas e sem ser escutado.

Sua dor só aumentava e cada vez ela lhe causava cicatrizes que o deformava e então começou a cativar uma raiva de tudo aquilo que não podia ter, de todos que ele não podia ser nem tocar. As meninas, inacessíveis na sua infância, eram as culpadas pela dor causada pela sua libido recalcada como um cravo em sua virilha.

Sua dor era tanta que pensara varias vezes em tirar a própria vida. Mas sem ser notado? Tendo que suportar continuar mesmo depois de sua morte a não ser ninguém? Principalmente para os “outros” que sempre o ignoraram?

Bolou um plano! Já não estava mais sóbrio. A dor em seu peito o fazia delirar, o vazio era insuportável e queria dividi-lo com outras pessoas. Mas ninguém voluntariamente se proporia a receber um pouco de seu vazio.

Assim em um ato de heroísmo para sí próprio partiu para o momento ao qual nunca mais seria perdoado por humano nenhum, nem por ele mesmo. Somente por um Deus ao qual ele tinha que acreditar para não tornar sua existência mais dolorida e vazia.

No templo de seu desconforto de forma magica cuspiu seu vazio e sua dor para corações dos pais, parentes e amigos daqueles que perderam suas vidas sem nem mesmo imaginar o que estava acontecendo. Que não podiam pedir desculpas por algo que não sabiam que tinham feito. Não imaginavam que machucava tanto por serem simplesmente felizes.

No mundo existem vários Wellingtons que estão por ai, sentados em bancos vazios nas praças, presos em suas casas, frente a uma tela fria e insipida. Wellingtons que cruzamos sem dizer bom dia, boa tarde ou boa noite. Para quem sorrimos esnobemente quando percebemos nossa superioridade social, nosso sucesso egoísta e desprezo pelo sofrimento alheio.

Não quero justificar o monstro, mas mostrar que ele também tinha coração. Infelizmente seu coração era cego para os outros, pois para os outros seu coração era invisível. Não quero dizer que crianças inocentes devam pagar, mas que às vezes o sofrimento que acontece entre quatro paredes acaba saindo e virando manchete de TV no mundo inteiro.

Comentários

  1. ola! interessante seu texto, há uma abordagem para o ser humano q um dia ele foi ou tentou ser....
    Realmente podem exister mtos desses por ai.... mas nossa sociedade -eu eu me incluo mto nessa sociedade- fechamos os olhos... e continuamos a olhar somente para nossa vida.. nossos problemas... nossas alegrias....e os outros? passam a ser somente os outros..... ateh o momento em q nao interfiram em nossa vida...
    dificil mudar tal comportamento neh?
    um bjo grande!
    sdds...

    ResponderExcluir
  2. Precisamos olhar os fatos em sua essêcia e compreender que as aparencias enganam, pro isso acredito que seu olhar sobre este acontecimento é bastante coerente.
    Vamos tomar cuidado ao julgar o culpado. O culpado pode não ser apenas o ator principal, mas tudo que o faz ou fez parte da vida dele.

    ResponderExcluir
  3. Sem palavras....Léo.
    ainda não consegui processar tudo o que a mídia infere dentro de nossos lares, depois deste tragédia!
    Interessante seu olhar sobre tudo o que está acontecendo.
    Abraço,
    Valéria

    ResponderExcluir
  4. É dificil compreender algo, enquanto o que a midia nos mostra é o outro lado obscuro dos fatos.
    concordo com seu ultimo paragrafo. É uma tragedia que poderia ser evitada, se a sociedade deixasse de olhar somente para o seu umbigo e ver que a sua volta tambem há vida, e vida que pede socorro no silencio. E eu pergunto quem é a sociedade? É cada um de nós, é facil jogar a culpa no outro, quando a culpa tambem é nossa...

    ResponderExcluir
  5. Talvez a mídia ou nós mesmos como seres egoístas, limitados não conseguimos enxergar além do fato "Monstro mata crianças inocentes".Seu texto me fez refletir o quanto nosso comportamento pode influenciar na vida do outro. Fico imaginando se é difícil p/ nós distante do fato, para os pais,parentes, amigos deve ser bem mais difícil tentar enxergar o Wellington de outra maneira. Nosso egoísmo, nossa indiferença construiu o Wellington e essa mesma indiferença nos impede de enxergá-lo agora.

    ResponderExcluir
  6. É, amigo. O mais incrível é o parodoxo que estamos cada vez mais próximos das pessoas, mas aos mesmo tempo, cada vez mais distantes. Lamentável. Escrevi uma nota sobre o ocorrido.
    O problema é que a mídia vai culpar o que não deve ser culpado. O buraco é muito mais embaixo, infelizmente. Abraço.

    ResponderExcluir
  7. Ain...
    Esse cara realmente sofreu muito antes de fazer tamanha loucura, mas nao precisava matar inocentes para que pudesse ser notado pelo mundo, que o mundo lhe visse como sofria... eu realmente fiquei chocado com a noticia daquele dia e acho que ainda estou....

    ResponderExcluir
  8. Nossa Leo, que texto lindo!
    Hoje li apenas este dentre os seus, mas fiquei com "água na boca" para conhecer os demais. Adorei sua compreensão sobre este caso e a clareza para descrever o processo de formação da doença, bem como os vários mecanismos de defesa do ego demonstrados aqui de forma tão natural.Parabéns!!
    Abraço, Simone(Caps Ad)

    ResponderExcluir
  9. Muito interessante este texto leonardo! compartilho das suas ideias por acreditar que, na maioria das vezes uma história possui dois lados. Desde as primeiras informações sobre a tragédia, imaginei que uma pessoa não faria alguma coisa desse tipo se não tivesse um bom motivo "pelo menos pra ele" né? Mas, como sempre, é mais fácil condenar do que oferecer ajuda e ajudar!!
    mt bom!!!!abraços

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

MULTI, INTER E TRANSPROFISSIONAL

Frases do Livro: Na Natureza Selvagem

A Historia da Chapeuzinho Vermelho na versão do Lobo “Mau”