A Trilogia da Transformação Social - Parte I

É preciso desmascarar para transformar

Como garantir que uma transformação seja verdadeiramente profunda e duradoura se ela não atingiu o cerne ou a alma do transformado?
Como dizer que ouve alguma transformação verdadeira se ela deu-se na superfície, naquilo que não é o próprio gerador de todas as coisas?
Nada pior que operar sobre a mentira, pensando que está se tratando da verdade, nada pior que tapar goteiras em castelos que foram feitos no vento para resolver o problema da chuva que inunda nossa alma.
Mas como saber onde está o cerne, como atingir o centro gerador das coisas que nos desagradam? Não sei. Mas imagino que uma pista esteja no homem. É ele que se somando a semelhantes cria a sociedade, a cultura, o estado e a palavra e são esses os substantivos que na maioria das vezes vemos em néon quando queremos achar os culpados.
De qualquer forma é preciso trazer esse homem à consciência de sua realidade. Não a realidade absoluta da sua existência, pois por essa já morreram muitos poetas, mas a realidade que esta inscrita na sua história, na tensão dos seus limites do aqui e agora e nas correntes que o prende nas masmorras do vicio do ser e do estar.
Não acredito que seja justo declarar-se salvador de alguém que tenha sido conduzido cegamente para fora de algo que não sabia o que era para onde não sabe o que é. Nem concordo que se deva conduzir cegamente quem quer que seja para onde quer que haja, para livrá-lo da condução cega de outra pessoa. Ao que parece restá-nos sermos meros denunciadores de uma imagem que vemos como injusta, agressiva e obscena, mas nunca mais importante do que a imagem que o sujeito da injustiça, agressão e obscenidade vê e sente.
Sou amigo de uma garota moradora de rua, viciada em crack de uma riqueza de espírito enorme. Não sei se posso dizer que estaria lhe fazendo bem se a convencesse a lutar contra sua condição de moradora de rua, contra o vicio ou contra o sistema que a excluiu. Ela me pareceu tão feliz quanto um cidadão comum de Cuba que tem sua comida controlada pelo estado e seus prazeres limitados pelo bem coletivo. Ora, me diriam, o cubano pelo menos tem um prognostico de vida melhor que a tal garota sua amiga moradora de rua. Sim, tem, ele não está tendo seu cérebro dissolvido, seu corpo dilacerado e nem sua dignidade violentada durante a noite pelos seus colegas de boca. Mas ambos não tem muitas escolhas a fazer quanto a seus futuros. E escolher o futuro para mim soa como algo mais importante quanto estar bem no presente. Não quero com isso fazer qualquer apologia ao liberalismo, que alias sou contra, mas tentar achar algo que seja mais inerente ao ser humano. Talvez eu chegue no amor, não sei.

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