Mãe, ela vai ser Surda!

Quando ela era pequena brincava de casinha,
De mamãe filhinha,
Carregava de um lado a outro uma boneca,
Sonhando com uma filha que teria no futuro.
Sua filhinha já tinha até nome e em sua imaginação, personalidade e voz.
Conversava com ela, ouvia na sua imaginação seus choros.
Sonhava feliz brincando de ser mamãe.
Algumas vezes contava historias ao lado da cama para a boneca dormir,
Também dava sermões imaginando uma peripécia de sua filhinha.
Com o tempo a boneca perdeu a graça,
E acabou dando lugar aos livros e garotos da escola.
Mas guardava o desejo de ser mãe,
Ainda a imagem de boneca que durante a infância lhe acompanhava nas brincadeiras,
O desejo de não mais brincar, mas ser mamãe e ter uma filha para conversar, e contar historias para dormir.
Conhece alguém especial, casa-se e fica grávida...
Fica sabendo que vai ser menina,
E passa nove meses sonhando com cuidados e brincadeiras com a filhinha.
Decora histórias de ninar, músicas infantis e sonha com o choro da bebê.
A bebê nasce,
Olhos lindos procurando a mamãe,
A mamãe alimenta ainda mais seus sonhos,
Não vê à hora de poder levar para casa a bebê e contar histórias de ninar.
Mas antes de sair do hospital o médico lhe dá a noticia:
Mãe, ela vai ser Surda!
Morre naquele momento a filhinha de seus sonhos,
Os momentos de contar histórias,
As conversas maternais.
Vem a vergonha,
O medo e a dor.
A negação da realidade,
Que depois de um tempo com muita dor passa a aceitar,
Que seus sonhos eram sonhos e não realidade,
Que era uma possibilidade de futuro e não o futuro.
E principalmente que existem outros jeitos de ser mãe,
De contar histórias, de conversar,
De ser importante para alguém e ter do lado alguém importante,
Mesmo que esse alguém não seja exatamente como imaginava,
E nunca é, todas as mães descobrem isso mais cedo ou mais tarde.
E aceitando descobre que é feliz e que também faz alguém feliz. 


Comentários

  1. Completo dizendo que a vida continua, os sonhos passam a ser outros. Não devemos nos privar da dor, mas devemos superá-la para poder enxergar as outras coisas belas da vida. Quando decidimos enfrentar e viver a realidade, perdemos coisas,deixamos sonhos para ganhar novas coisas e novos sonhos. Damos um novo sentido a nossa vida.

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